O Nascimento da Música
Se já não bastasse a surpresa do rebento ao ser entornado do útero e ter a luz queimando seus olhinhos, ainda por cima passou a conviver mais fortemente com o som: o ruido da maternidade, dos médicos contentes, da mãe baforejando, e do seu próprio choro, um sol bemol. Nesses instantes de pura intensidade auditiva, o neném - futuro Cartola, nome em homenagem ao grande poeta do samba - como Noel Rosa – sofreu um baque por ter explodido, assim, tão repentinamente, todos os seus sentidos de uma forma desumana. Os olhos ainda eram puros e virgens, o olfato aguçado, o ouvido absoluto e todos sincronizados para um maior entretenimento com o planeta.
O chorão não chorava à toa: era o susto, o medo da novidade acelerando seu coração logo nas primeiras horas na terra. O que de fato comprovou que aquele era só mais um ser humano comum. Meses depois, longe da maternidade e já no conforto do carpete da sala, enquanto brincava com uma espécie de bola fofinha, jogando-a para cima e para baixo, ouviu a porta se abrindo às suas costas e recebeu com sorriso o pai, aquele imenso ser, que trazia nas mãos uma caixa engraçada e colorida até demais, Boa noite, filhão, trouxe uma lembrancinha pra você e espero que você use bastante por que é muito mágico! Cartola continuava olhando para a caixa sem entender nada do que o ser grande dizia, cresceu os olhos quando o pai colocou a caixa no chão e a abriu com cuidado, retirando uma pequena fôrma de plástico com pedaços brancos de forma retangular estendidas na ponta e com algumas peças negras salientes entre as teclas cãs. O bebê ficou deslumbrado com aquela coisa maravilhosa! depressa, tornou a tocá-la, e, ao apertar aquele retângulo preto, ouviu um barulho, um lindo barulho, mais precisamente um Si bemol!
Aquele som o deixou maravilhado e o fez apertar de novo e de novo, partindo depressa para outra tecla, que soou um delicioso Ré sustenido, som que ele diferia com facilidade do Si bemol! Por mais que já tivesse alguns meses de vida, iniciara a sua verdadeira vida alí, a partir daquele instante em que conhecera as notas e seus valores singulares, pois nunca mais esquecera-se daquela arte pautada: a música.
3 comentários:
Grande homenagem, não?
Homenagem linda!
Meu filho se chamará cartola! *.*
hahaha, eu ainda não sei qual será o nome do meu.
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