sábado, 15 de agosto de 2009

Maria do Mar - Parte 3

O sol torrava a cuca do nosso amigo pescador enquanto sua rede era preparada para o lançamento, Dorival não se abateu pelo sol e continuou rijo no seu destino: pescar o máximo possível de grana!
Ele ia desamarrando a rede pouco a pouco até sua total liberdade, após o trabalho ele lançou-a ao mar e esperou... Foi-se a tarde toda novamente, Dori não cansava, não sentia o marasmo no ar, o clima monótono de cotidiano jamais apanhara Dorival dentro daquele barco, dentro de suas pretensões, era como se o serviço de lançar a rede e esperar silenciosamente fosse a tarefa mais gostosa que já vivera! Nada mais lhe passava na cabeça meio calva além do mormaço, contudo, de maneiras esporádicas ele deu a pensar na mulher que esquecera do outro lado do mar, abandonada, desprezada e que chorava em dor, de repente, esses pensamentos tornaram-se fixos e acasalaram-se com a mente de Dori causando-lhe um passar mal seguido de vómitos, o homem postou sua cabeça pra fora do barco e despejou suas secreções ao mar, dando-lhe um tom azul-esverdeado, logo após, ele sentou-se ao barco e olhou para o céu em busca de respostas, não encontrava nem ouvia nada! sentiu apenas sua rede dar um puxão com força, parecia um enorme mamífero do mar depredando seu instrumento de caça, o pescador, assustado, puxou o utensílio com força para si, algo se enroscara e tornara difícil puxá-lo, mas conforme ele foi retraindo o braço, foi ficando mais fácil a vinda da corda, e quando perto, com tremenda força de reserva, Dorival puxou a corda para cima no intuito de içar a rede para a pequena nau... Os olhos dele brilharam ao chegar esse momento, aspirava um enorme peixe capaz de render-lhe um bom quinhão de dinheiro, estava arrependido, queria ajudar a mulher a quem tanto amou a se recuperar. Conforme subia a corda de centímetro a centímetro, Dori apreciou, enganadamente, com seus olhos salgados a vinda de um dedo pálido, carregando uma pequena mão que carregava um braço num ombro e por fim os cabelos cãs postos defronte à face albina de Amélia, Dorival apanhou-a desesperado lançando-a ao interior do bote, encostando os ouvidos no peito dela esperando algum tum somente, mas o silêncio homicida foi mais forte e deixou Dori esperando a batida vital do coração da amada pelo resto do dia, e da noite, e do dia, e da noite, até seu coração amansar aos poucos e entrar em perfeita sincronia com o de Amélia, pondo fim ao assassino dos mares, pondo fim ao assassino das terras...




Um comentário:

Tamiris Maróstica disse...

(Eu tinha a pretensão de comentar em cada uma das partes, mas falhei, a leitura tornou-se uma só, sem divisões)

Amélia. Dorival. Amélia febril. Dorival extasiado. Ele no mar, ela na cama. Ele em busca dos peixes, ela em busca de atenção. Ela em prantos, ele aquecido pelo sol. Dorival pesca. Amélia é pescada. Amélia em silêncio. Dorival busca o som. E numa cena familiar eles entram em fusão.

Você soube dispor em cada parágrafo as palavras 'certas', manteve a expectativa e a tensão durante o texto. Num final onde as palavras "pondo fim ao assassino dos mares, pondo fim ao assassino das terras", couberam de maneira dupla, leve e pesada numa mesma proporção.