Era um poema de amor, alí, invisível no alvor da folha; como que aguardando ser delineado... No entanto, minha negra pena decidiu imprimir suas razões ocultadas...:
"Porque és, nas vagas de meu tempo,
Horas vagas de lamúrias infindas
E ternuras perdidas,
És o amor e sofrimento
E o tormento! o tormento!
E por isso me vens como um rebento
Tocar-me forte ao pé do ouvido
Vens com dedos peçonhentos
Bulir-me o peito, meu imo,
meus olhos sorumbáticos e distintos...
Vens-me como a visão do fim eterno
E vens te putrefazendo no aberto
Por fim, vens-te vindo
Como vem torpor no grã-deserto.
És tu na tua ausência
Sem saber ao certo aonde vai
Ou porque faz!"
E eu logo me pegava a gritar e clamar e urrar e bradar - mãos para o alto e cabeça erigida - co'a amante que me mata dês que nasci:
"Oh, minhas horinhas de descuido,
Não me deixes cá sem ela
Minhas horinhas, mia senhorinha!
Que eu estimo alcunhar as estrelas
E niná-las, faceiras, com um poema
Mia senhorinha!
Sou capaz de... sou capaz de...
Bulir com Poseidon, deus das vagas,
Na mia canoa de cupim!
Sou capaz de viver morto sem ela
Sou capaz de enveredar o meu fim..."
No fundo, eu sabia no fundo que nem a moça nem o tempo me ouviriam... Estavam, tolos, presentes a cada segundo, mas estavam distantes, bem distantes noutro mundo...
2 comentários:
Rapaz, escrevendo desse jeito, você tem que ler o teu muso inconsciente qualquer dia destes! Seu muso inconsciente é ninguém menos que John Keats! Que, claro, como todo digno poeta, morreu jovem. Hahaha... Se interessando por ele, dê-me um toque, que eu tenho o livro com as obras completas dele. São poemas em inglês que ninguém nunca fez igual.
Ainda bem. Os gênios andam ímpares pelo mundo, e não aos pares.
Valeu pela dica, rapaz! Hei de pesquisar sobre esse poeta... Pelo que me parece, ele tem as características de um Álvares de Azevedo estrangeiro(morrer cedo, ser emotivo e denso), não?
Abçs!
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