Quando da tarde valsante de São Paulo
Sentia a quentura do sol queimando
os músculos tesos e as núvens cãs,
Via a doçura de cada pomba berrar em berros mudos
A moça pura, o pão, o errante e infindo tudo.
E eu sou menos que tudo. Sou o errante infante
Que guarda toda a mágoa do mundo.
Sou o solo ácido, infértil, repleto do invisível.
E nessa invisibilidade mortal, sentia minha
Boca da alma - seca - afim de gritar:
-Vai-te embora, bicho imundo, que não te quero mais
Coração, alma, perdão... Meu naco de fel, vai-te embora
E leve contigo essas núvens corroídas pelo fogo
Leve essa alegria, leve esse cheiro de orvalho pela manhã
Leve contigo o sol e repouse suavemente mais ele em sua [cama:
Contente, feliz! Pois é o poente que te deita - e não diz.
Era isso e mais: era o verbo.
Era o início de uma constelação de lamúrias.
Mas... como fá-lo-ia se me era a poesia?
Como ofendê-la e expulsá-la de meu imo
- Nessa tarde valsante de São Paulo -
Se me era a pura e ingênua poesia?
Sua boca, seus olhos, seus seios alvos
Era-me um pedaço de poesia ambulante - e errante -
Era-me um soneto, epopeia, haicai, trova, rima, forma
Dera-me os versos, a pena e os ouvidos agudos de um poeta...
Já não podia matar a poesia...
Mas era essa poesia que me enterrava gota à gota
E me enterrava com o sol, com as núvens passantes,
Com as pombas brancas - representando a paz-,
Com a fragrância de orvalho matinal...
E me enterrava com seus sorrisinho presente e sua presente distância...
Porém, desejava eu - no fundo - com um berro mudo:
-Fica aqui, bicho imundo. Deixa-me deitar mia cabeça em seu colinho... Não vá não,
Que eu te quero tanto! eu te quero tanto... que nem sei mais querer.
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