sábado, 9 de maio de 2009

Pseudônimo: Boa Esperança - Apresentação

Vim, vivi, feneci
eis-me aqui, curtindo
água e raiz, afinal
de sede não fino mais

Meu mundo um grande campo é
de terras sovinas, chuvas sovinas
e mares de secura, partidos.

Reses cãs fagocitam
a própria carne doente
ao tempo do expio
severo e indolente

Meu mundo um grande defunto é
em épocas de seca, labaredas
invisíveis ardem os seres

Corpos secos, pó
mato seco, cinza
urubus cantam
a morte, vibra

Não servi de potente vão
arei por tempo bom este chão
assim que não pude mais (a queima vingou)
com meu corpo nutri a terra
                               [tão quanto arou]

Memórias póstumas
me vem à mente agora
de andanças as quais consumi
a cavalo caatinga afora

Era tarde de vasculha, eu andava
explorando, por sobre o meu cavalo
deambulava a ofício, caçando bicho

Eis que topo
no mais que de
repente, c’um cão
feioso que passou a
                    [nossa frente]

OUA! Apeei do quadrúpede e
parti de encontro ao tal, OUA!
Aqui bichano, vem cá, animal!

Com afago! com afago!
foi que tratei o cão
pois foi brutal o
bife que me rasgou

E pôs-se a fugir pelos caminhos
enquanto ouvia brados e ofensas
e tiros e tiros de fins vários

Cão dos diabo
dá-se a mão
perde-se ela
pois que morra

Com o dedo a sangue, o polegar
escalei o cavalo e pûs-me a
voltar, balbuciando com zelo
cada ofensa pelo trajeto de
                              [tanto sangrar]

Assim vivia, não
chateava-me a
monotonia, pois
pensava que um dia
                         [enfim, venceria]

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