Vim, vivi, feneci
eis-me aqui, curtindo
água e raiz, afinal
de sede não fino mais
Meu mundo um grande campo é
de terras sovinas, chuvas sovinas
e mares de secura, partidos.
Reses cãs fagocitam
a própria carne doente
ao tempo do expio
severo e indolente
Meu mundo um grande defunto é
em épocas de seca, labaredas
invisíveis ardem os seres
Corpos secos, pó
mato seco, cinza
urubus cantam
a morte, vibra
Não servi de potente vão
arei por tempo bom este chão
assim que não pude mais (a queima vingou)
com meu corpo nutri a terra
[tão quanto arou]
Memórias póstumas
me vem à mente agora
de andanças as quais consumi
a cavalo caatinga afora
Era tarde de vasculha, eu andava
explorando, por sobre o meu cavalo
deambulava a ofício, caçando bicho
Eis que topo
no mais que de
repente, c’um cão
feioso que passou a
[nossa frente]
OUA! Apeei do quadrúpede e
parti de encontro ao tal, OUA!
Aqui bichano, vem cá, animal!
Com afago! com afago!
foi que tratei o cão
pois foi brutal o
bife que me rasgou
E pôs-se a fugir pelos caminhos
enquanto ouvia brados e ofensas
e tiros e tiros de fins vários
Cão dos diabo
dá-se a mão
perde-se ela
pois que morra
Com o dedo a sangue, o polegar
escalei o cavalo e pûs-me a
voltar, balbuciando com zelo
cada ofensa pelo trajeto de
[tanto sangrar]
Assim vivia, não
chateava-me a
monotonia, pois
pensava que um dia
[enfim, venceria]
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