quinta-feira, 8 de abril de 2010

Elegia que se foi

Sus! Gritava-me a pena em sua lida.

Eu era em treva o meu próprio carrasco
Eu dera em terra meus últimos passos,
Oh! Pia pena sofrida!

Sus! Sus!

E já nem via mais luz!
Mas eis que em meus dedos a pus
- A Mia pena de azuis -
Para corrê-la aos calhamaços
E, dentre erros crassos,
Mia vereda fazê-la
Co´s meus pêlos nus.

Sus! Sus!

A pena me apressava
e, tardia, ardia na folha
Pois que dera-me uma gana
Um não-sei-quê de flama
De versar até a morte
Da última saudade
E da última chama.

Sus! Gritava-me a pena em sua lida.

E dá-lhe versos! e dá-lhe linhas
Eu agora era a elegia
Eu era a minha poesia
Lançando-me ao meu Moleskine
De minha vida vazia!
E era multiforme: livre, metro
Haikai, soneto, branco

Sus!

Meu sofrimento era livre:
Era um livro que voava e morria na chuva.
                                                      [Eu queria que morresse logo, como vão os versos livres. Eu queria senti-lo esvair em mia pena. Queria escrevê-lo até o infinito; até a morte. Desesperei-me esqueci entao de pontos linhas virgulas estrofes versos gramatica leksiko e peguei e nao parei mais morri na primeira queda:

Eis
Que
Caí

Amor é fogo que arde sem se ver
Sou Camões, sou Vinicius, sou cafuzo!
O amor em carne e a carne em amor; nascer
E eis que eu sou a língua em desuso

E mais um quarteto, mais dois tercetos
E escrevo-me assim... Sou qual luar
Sou como a luz lunar: amores verto
Então, versos (três) escuto - em mim - cantar:

Sou o mar! Sou o mar! Meu corpo informe
Agora, infinito, eu sou feito de sal
Sou feito de sal da ira que dorme!

Que mal pode ser mor que, no meu mal,
Eu haver incorporado essa vida?
Sus! Gritava-me a pena em sua lida!

Sus! Sus!
Pirou meu peito
Ainda.

Desejava não mais parar, nunca mais
Escreveria até se esgotar o sentimento homicida
(Pois que mata de jeito).
Escrever infindo era como dançar sem meta:
Rodopiava e pulava e expressava ao léu
Toda mia tristeza sentida.

Sus! Sus!
Só me lembro de puxar a lingueta...
                                        voou
Abri a janela e minha alma
E voou co'a pena da caneta.

3 comentários:

Fernando disse...

Excelente, excelente. Quererei reler este muitas e muitas vezes.

ele disse...

Quem dera eu ter seu talento.
Estou preso à narrativa, enquanto sua obra é arte, pura poesia.

Anônimo disse...

Muito obrigado, meus caros!
Creio que nada melhor que escrever, escrever e escrever até se esgotar uma tristeza ou ressentimento! Abçs!