segunda-feira, 7 de junho de 2010

Balada da moça que anuviou

Sob o imenso pálio aberto
Os olhos de Lucília flutuavam...
Era uma estrela lá voante,
Era um voo cá passante
Em balões que alumiavam.
Mas um cometa ateu rasgante
Rasgou nimbos que se amavam:
Eram nimbos que rolavam
E sob o vento se engraçavam
Neste espaço cintilante.

Mas Lucília, essa menina
De olhos amendoados
Não via olhos de um noivado
Nem de um puro namorado.
Lucília se avoava
Querendo o céu infindo...
Lúcília, então, elucida
Para o pio corpo finito
Que não mais carne quer pois ser
Pois que tem um corpo aflito.

Lucília, essa menina
Quer ser nimbo bonito.
E põe bonito pra Lucília
Que mais parece a filha
De uma ofensa, de um mal dito.
Via as núvens tão disformes
Que se amando sem pudor
Diziam à Lucília, pobre :
Por que não dormes?
Por que a dor?

Lucília se açoitava
E gritava ao esplendor:
São feias e disformes!
Cottons gordos e enormes
Mas têm amores e têm amor...
Tem um pálio infinito
E outras nimbos, outro agito
Diferentes dessa morte
Que me é lenta e consorte
E me é a vida sem cor...

Sob o imenso pálio aberto
Nossa Lucília anuviou...
Virou nimbo de tez cinza
Carregada e precisa
De gotínhas de calor.
Precipitou, então, um dia
Lenta, à face de um senhor
Pobre pai - o de Lucília
No enterro da menina
Lhe entregando à bela flor.

3 comentários:

Fernando disse...

Cara, apreciei muito este.

Anônimo disse...

Valeu, rapaz!
Ultimamente ando um tanto quanto "prosa", por isso estou fazendo algumas baladas... =D
Essa foi inpirado pela obra Via-Láctea do Bilac e pelas baladas do Vinicius, naturalmente. Abçs.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.